quinta-feira, 3 de junho de 2010

Capítulo III

Com a filha no colo, a mochila e a maleta de Raquel no ombro e numa das mãos, Carlo subiu se atrapalhando para abrir a porta com as chaves e entrou. Colocou Raquel na sua cama e foi tomar um banho, separando uma chave da porta extra e escrevendo um bilhete simples e claro no andar de baixo.

- Paolo, cuida da menina para mim. Tentarei chegar mais cedo hoje. – Carlo Vitor.

- ¡Vay a tranquilidad amigo! Yo juro que no ire ceder nada a ella beber.

- Valeu mano.

Carlo saiu do bar – e casa – pegando a rua à esquerda, tomando o ônibus, chegando ao serviço quando Raquel acordou.

- Carlo Vitor? Carlo Vitor Miranda? – Raquel Maria.

Ela chamou-o pelo apartamento, indo até a sala, onde vê a anotação de seu pai na pequena mesa.

“RAQUEL, ESTA É A CHAVE DA PORTA, CASO RESOLVA SAIR NÃO SE ESQUEÇA DE TRANCAR A PORTA. ENCONTRARÁ ALGO PARA COMER NA GELADEIRA, QUALQUER COISA QUE PRECISE PEÇA A PAOLO, NO BAR. PROMETO ESTAR ÀS 18HS EM CASA.”

Raquel olhou ao redor, havia roupas e papeis para todos os lados.

- Ele atreve-se a chamar de casa. – Raquel Maria.

A maior parte do tempo até que seu pai chegue a menina usa para organizar algumas coisas, e pouco antes de ele chegar desce para o bar, já com o movimento de alguns funcionários.

- ¡Niña, yo estava preocupándome! – Paolo.

- Vou sair. Se Carlo Vitor Miranda volte antes de mim responda que não vou demorar. – Raquel Maria.

- ¡Pero, yo hablé con el que yo cuidaría de tu! – Paolo.

- Não entendo o que você diz!

- ¡Niña! ¡Niña, aguarde!

Raquel sai deixando Paolo preso pela quase nenhuma movimentação do início da noite, jovens recém saídos da escola.

A principio ela perdeu-se nas desconhecidas ruas da nova cidade, mas depois de algumas informações alcançou o supermercado, e retornou ao bar com suas sacolas médias com luvas escuras calçadas em suas mãos frias e um cachecol xadrez no pescoço. Mas Carlo não via, estava zangado por ter se preocupado tanto.

- Raquel Maria, onde estava? – Carlo.

- Estive fazendo compras. Você disse para que eu pegasse algo na geladeira. – Raquel Maria.

- Então por que não fez isso? Por que saiu?

- A sua geladeira está vazia.

Ela largou as compras no primeiro degrau da escada que levaria ao apartamento e retirou as luvas.

- Você me deixou muito preocupado. Aqui não é como a cidade em que Mercedes e você moravam. Não existe calçada para os motoristas de carro, há tiroteios de porta de escola à porta de hospital, viciados em cada esquina... E nem os cachorros andam nas ruas daqui porque sabem que são perigosas! Aí você sai sem me avisar e volta dizendo que foi fazer compras? – Carlo.

- Desculpe por comprar coisas que não sejam chips ou refrigerante para eu beber, Carlo Vitor Miranda! – Raquel Maria.

Ela não leva as compras para o apartamento, subindo correndo com Carlo em seguida, levando as compras.

- Raquel. Raquel Maria, eu ainda não acabei de fazer com você. – Carlo Vitor.

- Não me importa. – Raquel Maria.

Carlo encontrou-a colocando na mochila as poucas coisas que havia retirado.

- O que está fazendo? – Carlo Vitor.

- Você disse que eu ficaria, se eu quisesse. Eu não quero. Vou embora. – Raquel Maria.

- Não quer mais ficar aqui?

- Acho que não está tão difícil de perceber...

- Para onde você vai?

- Vou pelas ruas perigosas para a casa da avó Ana.

- A mãe de Mercedes.

- É.

- Ela morreu, há dois anos.

Raquel parou para olhá-la.

- Como sabe? – Raquel Maria.

- Eu cuidava dela, aparentemente Mercedes não tinha muito tempo. Ana morava em um sítio, não muito longe... – Carlo Vitor.

Raquel voltou a fazer antes de parar para ouvi-lo.

- Não importa. Vou para qualquer lugar onde você não esteja. – Raquel Maria.

- Vamos tentar de novo? – Carlo Vitor.

- Mercedes e eu tentamos apenas uma vez, e nunca deu errado.

- Ela sempre te teve, só pra ela. Dê uma chance para mim.

- Mercedes dizia que você era um desgraçado.

Carlo fechou os olhos sem querer escutar.

- É, eu posso imaginar. Sempre a amei, mas... É difícil explicar. – Carlo Vitor.

- Eu não gostava de quando ela dizia isso. – Raquel Maria.

- Você não vai entender, como nos amávamos, é coisa de adulto.

- Então eu vou ficar com a condição de que me explicará tudo quando eu crescer.

- Vai voltar quando estiver crescida?

- Não. Eu vou ficar até conseguir entender.

- Obrigado.

Ele abraçou-a, coisa que não haviam feito antes.

- Está devendo R$ 100,00 ao Paolo. – Raquel Maria.

- Mas...– Carlo Vitor.

- As coisas não estão nada baratas ultimamente.

- E você gastou tanto assim?

- Arroz, feijão, frutas e legumes... Crianças precisam se alimentar bem, sabia?

- Raquel, é muita grana!

- Quem vai fazer a janta?

- Eu sempre janto lá embaixo.

- Não está sugerindo que eu desça a um bar a noite, não é?

- O problema é que eu não tenho todo esse dinheiro Raquel.

- Damos um jeito.

- Qual jeito? Já sei... Você vai ajudar Paolo nas tarefas da tarde. Amanhã cedo vai para a escola, já telefonei e acertei tudo.

- Mas...

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